terça-feira, 20 de abril de 2010

Mensagem à Sonae Turismo



Fui, durante anos, uma assídua frequentadora de Tróia e nem por isso me incomodava aquela atmosfera de vagarosa decadência que a península teve durante décadas, antes de vocês chegarem. Era um diamante velho mas ainda em bruto, uma jóia antiga e fora de moda, mas que se podia usar porque mantinha essa coisa inatingível que alguns lugares nunca perdem que é algo parecido com aquilo que nos humanos se chama personalidade.
Naturalmente, essa coisa indefenida não é fácil de retratar nas brochuras das agências de viagens ou de explicar aos clientes por parte dos operadores turísticos e por isso Tróia sempre esteve disponível para receber o outro lado do turismo de luxo, ou seja, as pessoas para quem o luxo é ter férias. E, de facto, Tróia foi um luxo fácil para muitos como eu.
Estive lá recentemente, já lá não ía há muito tempo. Fui sem ideias pré-concebidas, sempre soube que a poética desalinhada daquele lugar tinha os dias contados para a lógica simétrica e convencional do negócio do turismo. E não fiquei chocada com o que vi, apesar deste meu talento para apreciar o que fica depois (ou antes) das pessoas.
O que me leva a falar com vocês foi o que vi quando passei as fachadas das casas, deixei para trás os jardins e as vedações à volta das piscinas, percorri os estrados de madeira em direcção à areia e olhei à minha volta com os pés enterrados naquela água mansa - estava nas costas do anjo, mas o que vi não foram asas.
Foi lixo.
O que eu vi foi lixo.
Porque razão, pergunto, há espaço, entre tanto luxo, para tanto lixo?

Sem comentários:

Enviar um comentário