Ouvi há dias na SIC o Costa Ribas contar como os funcionários do fisco norte-americano resolveram um problema com um formulário do IRS que os contribuintes tinham preenchido erradamente: preencheram-no eles e depois enviaram uma carta a cada um dos cidadãos a explicar como se fazia. O objectivo ali, entenda-se, era não privar as pessoas do seu retorno do IRS. O Estado ao serviço dos cidadãos, portanto, exactamente como deve ser.
Penso nisto e olho para os papéis que guardo em casa enviados pelas Finanças, o olho de boi do Estado: leio números, datas e siglas que não entendo e umas palavras com que nunca me cruzo e imagino um especialista em codificação de mensagens a fazer horas extraordinárias na Repartição do meu bairro.
Seja o que for que lá está escrito, o que se lê é um "Venha cá imediatamente!", que me deixa tão perturbada quanto a minha professora primária quando entrava na sala de aula com a Mariazinha na mão - uma rectângulo de madeira maciça que concentrava toda a pedagogia que sabia usar. Era um instrumento cuja finalidade primeira era inspirar culpa mesmo em quem não a tinha e medo sobretudo em quem não o sentia.
O mesmo vale para as cartas das Finanças e toda a sua magnífica opacidade. Não servem para explicar, mas para intimidar. Não convidam ao diálogo, forçam à obediência. Não são avisos amáveis, são ameaças veladas.
O Estado português não sabe falar com os cidadãos e isso, no limite, revela que não é composto por pessoas que pensam como cidadãos.